INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo sobre as missões transculturais, veremos hoje o
envolvimento de toda a Igreja nesta tarefa. - Toda a membresia da Igreja,
conforme a sua vocação, é chamada para o trabalho missionário transcultural.
I
– A OBRA MISSIONÁRIA É RESPONSABILIDADE DA IGREJA
- A Declaração de Fé das Assembleias de Deus assim afirma: ”…O evangelho é
proclamado a homens e mulheres, sem fazer distinção de raça, língua, cultura ou
classe social, pois ‘o campo é o mundo’ (Mt.13:38). Jesus disse: ‘Portanto,
ide, fazei discípulos de todas as nações’ (Mt.28:19 – ARA), e ‘e ser-Me-eis
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos
confins da terra’ (At.1:8). Portanto, entendemos que é responsabilidade da
Igreja a obra missionária…” (DFAD XI.6, p.123). - Tem-se, portanto, que a obra
missionária é da responsabilidade da Igreja e, quando se fala em Igreja,
está-se a falar de todos os membros em particular, sem qualquer exceção. - A
Grande Comissão não foi dada pelo Senhor Jesus apenas aos apóstolos. Se é
verdade que eles foram “enviados” por Jesus, assim como o Senhor havia sido
“enviado” pelo Pai (“enviado” é o significado da palavra “apóstolo”), naquela
tarde do domingo da ressurreição, quando, inclusive, receberam o Espírito Santo
(Jo.20:21,22), também não devemos olvidar que a ordem para pregação do
Evangelho por todo o mundo, a toda criatura, foi dada aos discípulos todos, a
toda a Igreja que estava com o Senhor reunida e assistiu à Sua ascensão
(Mc.16:15; Mt.28:19,20; At.1:8,9; I Co.15:6). - Portanto, embora houvesse
aqueles a quem o Senhor constituiu por apóstolos, que estavam à frente não só
da igreja mas também da própria missão, tratava-se de um tarefa que tinha de
ser desempenhada por todos os discípulos, por todos aqueles que haviam crido em
Jesus Cristo como Senhor e Salvador. - Tanto assim é que, ante o comando do
Senhor que aguardassem o revestimento de poder para que pudessem cumprir a
ordem dada por Jesus (Cf. Lc.24:49), não se encontravam apenas os doze, mas,
sim, quase cento e vinte pessoas (At.1:15), aqueles que atenderam à convocação
do Senhor, tendo eles todos sido cheios do Espírito Santo, falando em outras
línguas (At.2:4). - Ora, como todos eles foram revestidos de poder, tem-se aqui
a nítida demonstração de que a Grande Comissão era dirigida a toda a Igreja,
sem qualquer exceção, visto que o Senhor nada faz sem propósito e, se batizou a
todos com o Espírito Santo, era porque queria que todos pregassem o Evangelho
por todo o mundo a toda criatura. - Então, de pronto, devemos estar conscientes
de que é tarefa de todo membro em particular da Igreja a evangelização, a
pregação do Evangelho. Como o Senhor Jesus bem explica na parábola dos talentos
(Mt.25:14-30), pelo menos um talento é entregue a cada servo do Senhor e este
talento é, sem dúvida, a tarefa de falar do amor de Deus na pessoa de Jesus
Cristo aos pecadores, convidar-lhes a crer em Jesus e a alcançarem a vida
eterna. - Lamentavelmente, nos dias hodiernos, esta consciência já não se tem.
As igrejas possuem os seus “departamentos de evangelismo”, onde estão as
pessoas “chamadas para evangelizar”, como se isto fosse possível. Estes poucos
irmãos abnegados levam avante a tarefa de evangelização, enquanto a esmagadora
maioria dos crentes se sente confortável em estar apenas “contribuindo” e
“orando”. - Não podemos confundir a tarefa de evangelização que cada um de nós
tem e da qual haveremos de prestar contas diante do Senhor no Tribunal de
Cristo, com a missão transcultural, esta, sim, um trabalho específico dentro da
tarefa evangelizadora, e na qual há diferenciada colaboração de toda a
membresia. - As missões transculturais são de responsabilidade de toda a
membresia, mas, dadas as suas especificidades, na sua execução, teremos
diferentes tarefas a serem cumpridas, mas com envolvimento de todos. - Assim,
embora seja, agora sim, plausível ter a igreja local um departamento de missões
ou uma secretaria de missões para bem coordenar o apoio aos missionários, ser o
elo entre a igreja local e os missionários, que, pelo seu caráter
transcultural, estão em regiões longínquas da igreja, isto, em absoluto,
significa dispensar a membresia de tal tarefa, a ser desempenhada segundo o
conselho de cada um. - Tais afirmações não são uma defesa da sistemática
existente em nossa denominação, mas, antes, o que se extrai das Escrituras
Sagradas. Enquanto todos os discípulos evangelizavam em Jerusalém (Cf.
At.2:42-47; 5:12-16; 6:7-10), o que continuaram a fazer quando tiveram de deixar
a cidade por causa da perseguição liderada por Saulo (At.8:4; 9:31; 11:19-21),
quando se tratou de missão intercultural, escalou o Senhor pessoas específicas,
como foi o caso tanto de Filipe (At.8:5), quanto de Barnabé (At.11:22) e de
Barnabé e Saulo (At.13:2). - Inclusive, no episódio da chamada de Barnabé e de
Saulo, na igreja de Antioquia, vemos que o Espírito Santo mesmo, em pessoa,
falou a toda a igreja, mandando separar os dois para a missão intercultural
(At.13:2), ou seja, tem-se aqui a demonstração inequívoca de que o fazer
missões transculturais é uma tarefa específica, um chamado especial da parte do
Senhor. - Tem-se, portanto, que, em matéria de “missões transculturais”, todos
são chamados, mas nem todos irão “fazer missões”, mas cada qual deverá exercer
uma tarefa específica neste importante aspecto da evangelização. - A igreja é
um corpo (I Co.12:27) e sua edificação exige a justa operação de cada membro em
particular, de cada parte, sem o que não haverá o necessário e indispensável
crescimento (Ef.4:15,16). - Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de
Deus: “…A vida cristã não é solitária; pois nenhum membro vive isolado do
corpo: ‘assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas
individualmente somos membros uns dos outros’ (Rm.12:5); ‘Porque, assim como o
corpo é um e tem muitos membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo
também’ (I Co.12:12). A conversão da pessoa leva à comunhão com um grupo de
crentes em Jesus [At.2:41,42] …” (DFAD XI.2, pp.120-1). - A igreja somente
cumpre o seu papel se demonstrar ser este organismo vivo, que cresce a cada
instante, crescimento este que é tanto qualitativo (Ef.4:15,16) quanto
quantitativo (At.2:47; 5:14; 19:26). - Este crescimento quantitativo da igreja
não deve se circunscrever à igreja local, pois “o campo é o mundo” (Mt.13:38) e
temos, cada um de nós, de ser testemunhas de Cristo tanto em Jerusalém, quanto
na Judeia, Samaria e até os confins da Terra (At.1:8). - Como a igreja é um
corpo, quando um de seus membros em particular estiver em algum lugar remoto,
distante, os demais membros ali estarão com ele, mas este “estar com o
missionário” não é um mero sentimento ou uma mera comunhão espiritual, mas o
resultado da “justa operação de cada parte”.
II – ORANDO
- A primeira operação que cada parte do corpo de Cristo deve fazer em “missões
transculturais” é a oração. - Quando o Espírito Santo chamou Barnabé e Saulo
para a missão transcultural na igreja de Antioquia, aquela membresia, de forma
imediata, sem que tivesse sido conclamada a isto pelo Senhor, foi jejuar e
orar, tendo, então, só depois desta oração e jejum, separado os missionários e
os enviado (At.13:3). - A oração, reforçada pelo jejum, é primordial para que
se tenha êxito na empreitada missionária. Aliás, a oração é fundamental para
que mantenhamos a nossa vida espiritual. Não há como mantermos comunhão com o
Senhor sem a oração e não há como fazermos a obra de Deus sem que tenhamos uma
vida de oração (I Ts.5:17). - Se fomos enviados por Cristo assim como o Pai enviou
o Senhor Jesus (Jo.20:21), temos de seguir o exemplo de Nosso Senhor e Salvador
(I Pe.2:21), temos de permear nossas ações no reino de Deus com a oração. -
Jesus vivia em constante oração em Seu ministério terreno, e todas as ações
mais proeminentes por Ele exercidas foram precedidas da oração. Jesus orou
antes de escolher os Seus discípulos (Lc.6:12,13); orou antes de realizar os
Seus milagres mais impactantes como a multiplicação dos pães (Mt.14:19), a
andança por sobre as águas (Mt.14:23-25), a ressurreição de Lázaro
(Jo.11:41-43), entre outros. - Jesus orava tanto que os Seus discípulos
resolveram pedir-Lhe que os ensinasse a orar (Lc.11:1). - A importância da
oração na obra missionária é-nos mostrada pelo grande missionário dos tempos
apostólicos, ou seja, o apóstolo Paulo, que, continuamente, pedia aos irmãos
que orassem por ele para que ele bem pudesse exercer o seu ministério
(Ef.6:19,20; Cl.4:2-4) e este pedido foi tanto feito aos efésios, com quem
Paulo conviveu por três anos (At.20:31), como para os colossenses, que nunca o
viram, pois o apóstolo não foi o responsável pela evangelização daquela cidade,
mas, sim, seu cooperador Epafras (Cl.1:7). - O trabalho da evangelização e, em
especial, a sua vertente das missões transculturais é uma verdadeira batalha
espiritual, porquanto quando estamos a pregar o Evangelho estamos a abrir os
olhos dos pecadores, procurando das trevas os converter à luz e do poder de
Satanás a Deus (At.26:18) e, naturalmente, entramos em conflito direto e aberto
contra as hostes espirituais da maldade , a nos exigir que nos revistamos da
armadura de Deus para poder ficar firmes contra as astutas ciladas do diabo
(Ef.6:11-13) e a utilização correta desta armadura exige que estejamos em
“forma espiritual” e esta “forma” é dada pela vigilância e pela oração
(Ef.6:18). OBS: O Pacto de Lausanne, resultado de congresso de evangelização
mundial realizado em 1974, não deixou de mencionar este conflito espiritual, no
seu item 12: “…12. Conflito Espiritual. Cremos que estamos empenhados num
permanente conflito espiritual com os principados e potestades do mal, que
querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial.
Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta
batalha com as armas espirituais da verdade e da oração…” (Disponível em:
https://lausanne.org/pt-br/recursosmultimidia-pt-br/covenant/pacto-de-lausanne
Acesso em 02 set. 2023). - Como bem nos
mostra o apóstolo dos gentios, não é apenas o missionário que deve orar e
jejuar, mas toda a igreja, porque somos um corpo e, como tal, devemos orar uns
pelos outros, pois a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos
(Tg.5:16). - A oração intercessória é fundamental para que haja êxito no
trabalho missionário e todos nós devemos nos empenhar para intercedermos pelos
que estão a levar a mensagem da salvação a outros povos, tribos, línguas e
nações. - Não se trata de uma oração genérica, protocolar, abstrata, mas, sim,
de uma intercessão concreta, fazendo menção dos missionários, bem como dos
lugares onde se encontram. - Paulo pede para que orassem por ele e de forma
específica, para que ele pudesse ter mensagem que levasse os ouvintes à
conversão. - Deve-se orar, primeiro, pelo missionário. Evidentemente que
devemos orar por todos os missionários, mesmo aqueles que nem conhecemos, mas,
além desta oração, faz-se preciso que oremos especificamente por aqueles
missionários que foram enviados pela nossa igreja local ou que são sustentados
por ela. - Dentro da comunicação que deve haver entre os missionários e as
igrejas que os mantêm, estes devem comunicar as necessidades (Rm.12:13) e, com
este conhecimento, devem as orações ser feitas em prol daqueles que estão na
linha de frente do combate contra o maligno. - Mas devemos também orar para que
os missionários transmitam a mensagem do Evangelho com demonstração do Espírito
e de poder (I Co.2:4). Paulo pôde dizer que assim havia pregado em Corinto,
mas, ao escrever sua carta aos efésios, pediu àqueles crentes que orassem por
ele para que lhe “fosse dada, no abrir da sua boca, a palavra com confiança,
para fazer notório o mistério do evangelho” (Ef.6:19). - Aprendemos, assim, que
toda aquela desenvoltura demonstrada pelo apóstolo não era só resultado de sua
vida de íntima comunhão com o Senhor (Gl.2:20), mas também das orações de todos
quantos intercediam por ele. - Aos colossenses, o apóstolo pediu que orassem
para que fosse aberta a ele “a porta da Palavra, a fim de falar do mistério de
Cristo” (Cl.4:3). Devemos orar pelos missionários para que recebam eles a
mensagem da parte de Deus. - Nestes dois pedidos do apóstolo vemos como há uma
necessidade de uma intervenção sobrenatural, da parte do Senhor, para a
superação das barreiras culturais, para que se possa utilizar corretamente dos
elementos da cultura para que, por meio deles, possa ser compreendida a
mensagem da salvação. - “Abrir a porta da Palavra”, “dar a Palavra com
confiança no abrir da boca” são expressões que mostram que se faz necessário
que o Espírito Santo dirija o missionário para que ele possa aproveitar os
elementos do cotidiano daquela população que lhe é estranha e, a partir dali,
levar a mensagem da salvação, assim como o próprio Paulo fez em Atenas ao se
utilizar do culto ao “deus desconhecido” para, a partir dele, pregar a Cristo.
- No dizer do missionário e missiólogo Don Richardson, é a identificação do
“fator Melquisedeque” em cada cultura, a partir do qual se poderá levar Cristo
às pessoas e trazê-las para o reino do Filho do Seu amor (Cl.1:3). - Temos,
pois, o dever de orar pelos missionários, pois somos membros em particular do
corpo de Cristo e temos de estar unidos, em comunhão, para que as almas sejam
salvas e juntamente conosco desfrutem da vida eterna com o Senhor. - Deixar de
orar pelos missionários é pecar. O juiz e profeta Samuel não teve dúvida de
dizer que, se deixasse de interceder pelos filhos de Israel, estaria a pecar (I
Sm.12:23) e o irmão do Senhor foi bem claro ao dizer que quem sabe fazer o bem
e não o faz, comete pecado (Tg.4:17). - Ora, se sabemos que nossa igreja local
enviou ou ajuda a sustentar um certo missionário, se temos conhecimento de suas
dificuldades e necessidades e não oramos por ele, estaremos, sem dúvida, cometendo
pecado e, como diz a poetisa sacra Ingrid Anderson Franson: “no céu não entra
pecado, fadiga, tristeza nem dor” (primeiro verso da primeira estrofe do hino
422 da Harpa Cristã). Como poderemos, então, entrar no céu se não estamos a
orar pelos missionários? Pensemos nisto!
III
– CONTRIBUINDO - A segunda operação que cada parte deve fazer em
“missões transculturais” é a contribuição, o que normalmente é entendido como
“contribuição financeira” que, sem dúvida, é a principal forma de contribuição,
mas não é a única. - Embora não sejamos deste mundo (Jo.17:6), estamos neste
mundo (Jo.17:11) e, por conta disso, evidentemente que o missionário a ser
enviado para regiões distantes para pregar o Evangelho necessitará de meios
para sua sobrevivência, pois necessitamos de comida, bebida e vestido
(Mt.6:31,32). - Assim, e este assunto de lição própria, é dever da igreja que
envia o missionário prover o seu sustento e o de sua família, a fim de que ele
possa se dedicar integralmente à obra do Senhor. - O apóstolo Paulo revela que
sempre recebeu contribuição financeira da igreja de Filipos (Fp.4:15,16; 2:25),
igreja que ele mesmo fundara no início da sua segunda viagem missionária
(At.16:1-12). - Nesta revelação, o apóstolo mostra-nos que, já nos tempos
apostólicos, havia uma dificuldade no que respeita à contribuição financeira.
Em parte, entende-se tal dificuldade porque grande parte da membresia era
formada por escravos, pessoas que, portanto, não tinham remuneração, sem se
falar nas grandes dificuldades existentes de comunicação e de transporte, o que
tornava difícil o custeio à distância do missionário. - Vemos, por exemplo, que
a igreja de Filipos teve de mandar Epafrodito para levar a Paulo ajuda
financeira quando este se encontrava preso em Roma (Fp.2:25), o que mostra o
grau de dificuldade em tal atividade, pois, além do elevado custo, havia a
própria demora na chegada dos recursos e no envio de mais recursos no futuro. -
Mas além destas dificuldades de ordem prática, que, podemos dizer, foram
sensivelmente diminuídas na atualidade, uma vez que a movimentação de capitais
a nível mundial é uma realidade, não se pode deixar de observar que havia,
ainda, uma mentalidade avessa a esta contribuição, tanto que o apóstolo afirma
que somente os filipenses se dispunham a ajudá-lo, quando, sabemos todos, foram
muitas as igrejas fundadas por Paulo. - O apóstolo, mesmo, em certas ocasiões,
mostra que a própria circunstância local e/ou cultural fez com que ele
recusasse ajuda material da parte das igrejas, como vemos tanto em Corinto (II
Co.12:13,14) quanto em Tessalônica (I Ts.2:9). - Portanto, desde o início da
história da igreja, a questão da contribuição financeira para a realização da
obra missionária sempre suscitou forte resistência e é, sem dúvida, um dos
elementos que mais prejudicam o desenvolvimento das “missões transculturais”. - Entretanto, se a igreja é um corpo, devemos,
como ensina o apóstolo Paulo, observar que “…ninguém aborrece a sua própria
carne, antes a alimenta e sustenta…” (Ef.5:29), não podemos deixar de dar o
sustento ao missionário, que é membro em particular do corpo e que está a
serviço do corpo. - Embora, por vezes, o apóstolo Paulo tenha, por
circunstâncias, abrido mão do sustento pela igreja, jamais disse que isto não
era correto. Pelo contrário, fez questão de sempre apontar que se tratava de um
direito de todos quantos se dedicavam exclusivamente à pregação do Evangelho (I
Co.9:9-14; I Ts.2:6; I Tm.5:17,18). - O próprio Senhor Jesus instruiu os setenta
discípulos que encaminhou para aquele “estágio de evangelização” durante o Seu
ministério que legitimamente comessem e bebessem do que houvesse nas casas onde
se hospedassem, pois digno é o obreiro do seu salário (Lc.10:7). - Deste modo,
é, mesmo, dever de toda a membresia custear o sustento do missionário e de sua
família, para que ele possa se dedicar integralmente à obra de Deus. - As
igrejas locais devem dar prioridade na utilização dos seus recursos para as
principais tarefas da Igreja que são a evangelização e o ensino da Palavra.
Lamentavelmente, nos dias hodiernos, existe uma “burocracia eclesiástica” que
consome quase todos os recursos amealhados entre a membresia e não são poucos
os casos em que missionários são simplesmente abandonados e deixados à própria
sorte nos lugares onde se encontram. - Ponto importante com relação à
contribuição, que é ela tarefa da igreja local. Não podem os membros resolverem
utilizar seus recursos conforme a sua vontade e entendimento, em iniciativas
individuais, pois, assim, como veremos infra, não pode haver “missionários por
conta própria”, que sejam enviados por igrejas, também não podem os
contribuintes serem por conta própria, fazendo uso de seus recursos em
dissonância com a igreja local a que pertence. - Em nossos dias, muitos dos
recursos que a igreja local poderia utilizar para realizar missões
transculturais é desviado pela membresia para iniciativas de duvidosa
idoneidade e que muito ou quase nada contribuem para a salvação das almas e, o
que é mais grave, que não estão vinculados à ação do Espírito Santo naquela
igreja local para o trabalho missionário. - Se estamos em uma igreja local
servindo ao Senhor ali, por Sua vontade, é evidente que temos de centrar nossos
esforços para que esta igreja local cumpra a sua principal tarefa que é a de
ganhar almas para o Senhor. Como, então, permitir que nossos recursos, que
poderiam ser utilizados para esta tarefa, sejam entregues a pessoas que não
fazem parte da nossa vocação e do nosso papel no reino de Deus? - Mas além da
contribuição financeira, há de se ter toda uma assistência ao missionário, que
não se resume apenas a aspectos materiais. O apóstolo Paulo foi visitado por
Epafrodito na prisão em Roma que, não só lhe levou recursos financeiros, como
também lhe fez companhia (Fp.4:25-28), tendo até adoecido e quase morrido,
precisamente porque ficou ali ao lado do apóstolo, e, segundo alguns, até se
privando do necessário para dar socorro ao apóstolo. - Na segunda prisão do
apóstolo, vemos também que Onesíforo foi fazer companhia ao apóstolo, tendo,
inclusive, procurado o apóstolo e o encontrado para recreá-lo (II Tm.1:16,17).
- Tem-se, pois, que uma forma de contribuição à obra missionária é o
companheirismo com o missionário, dando-lhe assistência espiritual e afetiva,
para que ele possa enfrentar as muitas dificuldades que se lhe apresentam na
obra do Senhor. Este contato, este companheirismo hoje é muito mais fácil do
que nos dias de Paulo, e deve ser exercido pela membresia da igreja local que
envia e/ou sustenta os missionários.
IV - FAZENDO MISSÕES
- Se orar e contribuir para as missões transculturais é tarefa de toda a
membresia da igreja local, fazer missões, ou seja, ir até o lugar longínquo
para pregar o Evangelho, exige um chamado divino, não é algo que possa ser
feito por todos os crentes. - Como já salientamos supra, assim é que a Palavra
de Deus nos mostra: o Espírito Santo disse ter chamado Barnabé e Saulo para
esta tarefa (At.13:2). - Este chamado específico distingue, pois, o missionário
neste trabalho de “missões transculturais”. - Vê-se, portanto, que um dos modos
de cooperar nas missões transculturais é o “fazer missões”, ou seja, ir até as
outras plagas para lá pregar o Evangelho e ganhar almas para o Senhor. - Para
se “fazer missões”, por primeiro, deve ser chamado pelo Senhor. Barnabé e Saulo
foram chamados pelo Espírito Santo para serem missionários e, por isso,
puderam, ao retornar da primeira viagem missionária, “relatar quão grandes
coisas Deus fizera por eles e como abrira aos gentios a porta da fé”
(At.14:27). - É preciso ser chamado pelo Senhor para ser missionário. Muitos
querem ser “missionários” apenas para poderem emigrar e “tentar a sorte” noutro
país, principalmente quando se vive uma séria crise econômico-financeira no
país de origem, valendo-se, inclusive, de benefícios que alguns países fornecem
para os missionários. - Outros querem “fazer missões” para escapar de situações
embaraçosas ou até mesmo de perseguição que estão a sofrer no país de origem,
por vezes até em função da obra de Deus, fazendo, assim, um “autoexílio”. -
Outros, ainda, querem “fazer turismo”, conhecer novos lugares, ter contato com
outros povos, aumentar seus conhecimentos. - Entretanto, todos estes não terão
êxito no seu “trabalho missionário”, pois se trata de uma tarefa que só pode
ser desempenhada por quem for chamado pelo Senhor, devidamente comissionado
para isto. - Esta chamada específica, porém, não retira a responsabilidade de
toda a igreja local pela obra missionária. Cabe a toda membresia orar e
contribuir para que o missionário possa, na linha de frente, ganhar almas para
o Senhor Jesus. - A chamada específica, também, não dispensa a devida
capacitação do missionário para que ele possa bem exercer o seu ministério.
Embora todos os membros devam ser capacitados para exercer aquilo que o Senhor
os comissiona, os missionários transculturais têm de ter uma formação toda
especial. - Vemos que o Espírito Santo não chamou Barnabé e Saulo a esmo. Ambos
tinham a devida formação para poderemos empreender esta tarefa. - Barnabé era
natural de Chipre (At.4:36), sendo, portanto, um judeu grego e que era levita
e, portanto, dotado de conhecimento tanto da cultura grega quanto da lei de
Moisés, não tendo sido por outro motivo que os apóstolos o enviaram a Antioquia
quando souberam da conversão de gentios. - Paulo, então, escolhido desde o
ventre de sua mãe (Gl.1:15) para ser “vaso escolhido para levar o nome de Jesus
diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel” (At.9:15), teve uma
trajetória de vida que mostra muito bem o propósito divino: natural de Tarso
(At.9:11), centro filosófico estoico, foi formado na cultura grega; tendo
estudado aos pés de Gamaliel (At.22:3), era doutor da lei e, sendo cidadão
romano (At.22:27,28), conhecedor do direito romano. Com esta vasta cultura,
poderia muito bem desempenhar o papel que lhe concedia o Senhor na pregação do
Evangelho. - A chamada específica não significa despreparo. Alguém que tem
consciência da sua chamada missionária deve se esmerar para que, uma vez em
terras estranhas, possa se utilizar de todo vasto conhecimento adquirido para
poder bem levar a mensagem do Evangelho. - Muitos procuram justificar a
desnecessidade do preparo dizendo que, quando Deus chama, encarrega-Se de
providenciar os meios pelos quais se fará a obra e como Deus não falha, não há
qualquer necessidade de preparo humano. - Não é isto, porém, que vemos ao longo
das Escrituras. Bem ao contrário, vemos o extremo cuidado que o Senhor faz para
que a pessoa esteja devidamente preparada para a obra que o Senhor a
comissiona. Muitas vezes, a pessoa nem sabe que está sendo preparada para o
serviço para o qual foi escolhida, como é o caso do próprio apóstolo Paulo, mas
se Deus faz com que ela se prepare, é porque o preparo é necessário e
indispensável. - Alguns, mesmo, chegam a dar como exemplo os missionários
pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil, Gunnar Vingren e Daniel Berg, que
teriam sido chamados pelo Senhor e nem mesmo sabiam onde ficava “Pará”, o lugar
mencionado na profecia que os chamou. - Mas vejam que interessante, amados
irmãos. Os missionários foram até uma biblioteca para saber onde ficava o
“Pará”. Depois procuraram saber como viajar de onde estavam, nos Estados Unidos,
para este lugar chamado “Pará” e, chegando ao Brasil, Daniel Berg foi arrumar
um emprego e, com o salário, pagava as aulas de língua portuguesa para Gunnar
Vingren, que depois ensinava a língua para eles. Tudo isso por quê? Porque eles
tinham de ter o mínimo de informações e de condições para poder pregar o
Evangelho no Brasil. - Então esta história de que “Deus Se encarrega” é apenas
desculpa de preguiçoso e preguiça, sabemos todos, é pecado (Pv.6:6,9; 10:26;
12:27; 13:4; 15:19; 19:15,24; 20:4; 21:25; 22:13; 24:30; 26:13-15; 26:15,16;
31:27; Ec.10:18). - Neste ponto, devem as igrejas locais, ao terem a nítida
conscientização da chamada específica de um membro para a obra missionária, já
contribuir para a formação desta pessoa, inclusive, se for o caso, ajudando a
custear um curso em uma escola de missões, como é o caso da Escola de Missões
das Assembleias de Deus (EMAD), vinculada à Convenção Geral das Assembleias de
Deus (CGADB). - Observemos que toda a igreja em Antioquia, sabendo da escolha
de Barnabé e Saulo pelo Espírito Santo, orou e jejuou para então só depois
separar os dois missionários e os enviá-los ao campo missionário. - Da mesma
maneira, a igreja local tendo consciência inequívoca do chamado de alguém para
missão transcultural, deve orar e jejuar, ajudar na preparação do missionário
para só, então, posteriormente enviá-lo. - Outro ponto importante é que o
missionário é sempre alguém enviado por uma igreja local. A palavra
“missionário”, aliás, é a correspondente latina da palavra grega “apóstolo”, e
ambas significam “enviados”. - Jesus disse que estava enviando os apóstolos,
assim como o Pai O havia enviado (Jo.20:21), sendo, por isso mesmo, chamado na
Bíblia de “apóstolo” (Hb.3:1), “o apóstolo do Pai”, como o denomina o pastor
Antonio Sebastião da Silva, grande mestre da Palavra de Deus e diretor da
Faculdade Teológica de Santo André (FATESA). - Pois bem, se é Jesus quem nos
envia, os missionários, chamados especificamente para este trabalho, também são
enviados por Cristo e como atua o Senhor? Por meio da Igreja, que é o Seu corpo
(I Co.12:27), sendo Ele a cabeça (Ef.5:23). - Quando cremos em Jesus, somos
inseridos na Igreja (I Co.12:12-14), de modo que não há a menor possibilidade
de um membro deste corpo ser um membro vivo se não estiver no corpo. - Quando
cremos em Cristo, somos inseridos no corpo e, portanto, nenhum missionário irá
ser enviado solitariamente, por conta própria, mas sempre enviado por uma
igreja local, que se encarregará de orar, contribuir e permitir que este
missionário faça missões. O Espírito Santo chamou a Barnabé e a Saulo, mas eles
foram enviados pela igreja em Antioquia (At.13:3), a quem foram prestar contas
ao término da primeira viagem missionária (At.14:26-28). - Hoje existem muitos
“missionários free-lancer”, podemos dizer assim, que dizem ter recebido uma
“chamada”, mas que não estão vinculados a igreja local alguma. Tais pessoas são
desordenadas e não podem ser levadas a sério, porque Deus não muda e não há
nenhum caso deste nas Escrituras e, observemos, irmãos, se isto fosse possível,
o tempo apostólico era o mais oportuno para que isto acontecesse, já que,
naquele tempo primeiro da igreja, não se tinha a organização que hoje se tem. -
Não se confunda isto com um denominacionalismo ou algo similar. Há diversas
organizações chamadas “paraeclesiásticas”, ou seja, que funcionam ao largo das
igrejas locais, cuja função é precisamente o de apoiar a obra missionária. Mas
tais organizações apenas concentram os esforços das igrejas locais, mesmo não
estando vinculadas a elas, para dar maior racionalidade e eficiência ao
trabalho de pregação do Evangelho em todo o mundo, sendo, pois, elementos que
fortificam a vinculação dos missionários às igrejas locais, algo bem diferente
do que fazem estes pseudomissionários mencionados que, no mais das vezes, a
exemplo daqueles irmãos de Tessalônica, querem apenas ter um modo de vida às
custas do trabalho dos irmãos (II Ts.3:6-12). - A Didaquê, um dos mais antigos
livros de doutrina cristã, do século II, fala deste tipo de gente, “in verbis”:
“…Todo apóstolo que vier a ti seja recebido como o Senhor. Mas que ele não
permaneça mais de um dia, ou dois dias, se houver uma necessidade. Mas se ele
permanecer três dias, ele é um falso profeta. E quando o apóstolo vai embora,
não o deixe levar nada mais que pão até que ele se hospede. Se ele pedir
dinheiro, ele é um falso profeta…” (Cap.11. In: RODRIGUES, Cláudio J.A.
(trad.). Apócrifos e pseudoepígrafos da Bíblia. São Paulo: Novo Século, 2004,
p.765).
Colaboração para o Portal Escola Dominical –
Pr. Caramuru Afonso Francisco
FONTE:
PORTAL EBD