Introdução: Nesta lição estudaremos sobre a graça de Deus. Não há dúvidas de que nos últimos anos os cristãos têm demonstrado maior interesse em conhecer melhor a doutrina da graça. Nesse sentido, pode-se dizer que há um despertar da graça. Contudo, para muitos, esse ensino continua ainda ofuscado. Nesse aspecto, pode se dizer que a doutrina da graça tem sido mal compreendida e, portanto, mal assimilada e, consequentemente, desvirtuada. Muito do que se prega e se ensina como sendo o Evangelho da graça, nada mais é do que uma forma deturpada da graça. É a graça barateada.
I. COMPREENDENDO A GRAÇA
1. A
graça é divina. Ao
se afirmar que a graça é divina, se quer dizer com isso que a sua origem está
inteiramente em Deus. Foi Ele quem quis agir com graça. O testemunho bíblico é
que “aprouve a Deus salvar” os homens (1Co 1.21). Isso significa que a origem
da graça, bem como a iniciativa da salvação, é ato de Deus. A graça, portanto,
tem origem no céu. Ninguém pode salvar a si mesmo.
2. A
graça é imerecida. A
graça é um favor imerecido. Isso significa que ninguém a merecia e nem tinha
como merecê-la. De fato, a Escritura diz que “não há justo, nem um sequer” (Rm
3.10).
a) Todos necessitam da salva
Rm.3.10-12;
I.
Do poder
do pecado Rm. 6.18; 8.2
II.
Da
maldição da lei Gl.3.13;
III.
Do poder
de satanás At.26.18;
IV.
Da ira
vindoura ITs. 1.10
Nossa
justiça própria é como trapo da imundícia (Is 64.6). A nossa condição antes de
conhecermos a graça se assemelhava a de alguém que deve uma grande quantia e
não tem com que pagar (Lc 7.42; Cristo perdoou a dívida que era nossa e que não
podíamos pagar Ef 2.4,5).
II. A
GRAÇA NO CONTEXTO BÍBLICO
1. A necessidade
da graça. Uma
das doutrinas mais bem definidas e claras nas Escrituras é a referente à queda
do homem. O primeiro fato a ser observado é que Adão, o primeiro homem, foi
criado como um ser moralmente livre, podendo escolher o que fazer. A Escritura
diz que Adão foi tentado (Gn 3.6), mas não coagido a pecar (Gn 3.16,17).
I.
Dores
Gn.3.16;
II.
Sujeição
a lei Gn3.16, Cl.4.4,5;
III.
Maldição
Gn.3.17, Gl.3.13;
IV.
Fadiga
Gn.3.17, Is.53.11;
V.
Espinhos
Gn.3.18, Mt.27.29;
VI.
Suor
Gn.3.19, Lc.22.44;
VII. Morte Gn.3.19, Lc.23.46.
Deus o responsabilizou por sua desobediência (Gn 3.17). O primeiro homem, portanto,
de forma livre e voluntária, desobedeceu e pecou (Rm 5.12a).
O segundo fato é que a queda do homem produziu consequências, tanto para ele como
para sua posteridade. Adão era o cabeça da raça e como tal todos os homens estava
sob seus lombos (Rm 5.12b; Gn 3.23). Ninguém, portanto, ficou fora da esfera do
pecado. Tendo caído no pecado, o homem não podia por si mesmo se libertar. Uma das
consequências advindas da Queda foi a necessidade da satisfação da justiça divina. Por
isso, a justiça de Deus exige a punição do pecado. Isso porque Deus sendo justo e santo
não deixaria o pecado impune. Contudo, assim como Deus é justo, da mesma forma, Ele
é amor. Isso é denominado pelos teólogos como a doutrina do “duplo amor de Deus” - O
amor de Deus à justiça e o amor de Deus à humanidade. Se por um lado, a justiça divina
exige a punição do pecado, por outro lado, o amor de Deus pela humanidade levou-o a
prover a cruz como o meio de justificação (1Tm 2.5; Jo 3.16). Em Cristo Jesus, portanto,
Deus manifesta o seu grande amor pela humanidade e vê nEle sua justiça satisfeita.
2. A
extensão da graça. As
Escrituras afirmam que Deus quer salvar a todos (1Tm 2.4). Deus ama todos os
homens. Logo, o mais vil pecador, no lugar onde estiver, é amado por Deus e,
por isso, deve ser alcançado. O alcoólatra, o adúltero, o homicida etc., todos
serão aceitos por Deus se receberem a graça divina, Cristo Jesus. Essa graça é
extensiva a todos os homens. Ela é universal. Contudo, essa graça não é
universalista. Uma coisa não tem relação com a outra. O universalismo prega que
todos, independentemente de credo, religião ou arrependimento, ou
comportamento, serão salvos. Ao contrário, a graça é universal porque é estendida
a todos os homens. Todos os que se arrependerem e confessarem a Cristo podem
ser salvos. A graça é oferecida a todos (Tt 2.11).
I.
A
aparição Maravilhosa: a graça salvadora Tt.2.11;
II.
A quem a
graça se manifestou? A todos os homens ITm.2.4;
III.
Como a
graça se manifestou? Em amor indescritível Jo.3.16;
IV.
Quando a
graça se manifestou? Quando os tempos se cumpriu Gl.4.4;
V.
Porque a
graça se manifestou? Para salvar Tt.2.11,12;
VI. Para que a graça se manifestou? Para Deus ter um povo exclusivamente seu Tt.2.12-14.
Contudo, só se torna eficaz na vida daquele que crê (Mc 16.16; Jo 6.47).
III. A GRAÇA NO CONTEXTO DA
REFORMA
1. A
corrupção da doutrina da graça. O contexto da Reforma Protestante do século
XVI é muito diversificado. Contudo, é possível identificar alguns fatores que
contribuíram para o surgimento da Reforma: o catolicismo perdia influência e,
por isso, surgiu uma reação contra os líderes religiosos por conta de seu baixo
nível moral; a rejeição da doutrina católica como válida; um maior interesse
pela educação, que deixa de ser um privilégio dos líderes católicos; e uma
maior diversidade doutrinária. De uma forma direta, pode-se afirmar que a Reforma
surge como uma resposta ao enfraquecimento, deturpação e negação da doutrina da
graça, que no período medieval, havia sido totalmente reconfigurada. A salvação
pelas obras havia substituído a salvação pela fé somente (Rm 1.17). Em outras
palavras, a salvação havia se tornado meritória.
2. A restauração da doutrina graça. Como foi observada, a Reforma, portanto, surge como uma reação à corrupção da doutrina da graça. Lutero, monge alemão agostiniano, se torna o principal porta-voz da doutrina “pela fé somente”. Posteriormente, o lema luterano seria conhecido como uma das cinco solas: sola gratia (só a graça). Os reformadores estavam também convictos de que somente através do retorno às Escrituras a doutrina da graça poderia ser restaurada. Foi por isso que lutaram. Foi por isso que sofreram e, até mesmo, morreram. A doutrina da graça não aceita misturas. É pela graça somente que somos salvos.
IV. A GRAÇA NO CONTEXTO
CONTEMPORÂNEO
1. A
graça barateada. Há
muito a expressão “graça barata” foi introduzida na literatura para expressar a
vida cristã nominal ou mundanizada. De fato, o evangelho expresso por alguns
ensinadores não reflete mais a graça. Parece que quanto mais crescem, menos
influência os evangélicos estão causando na sociedade. Urge voltar para o Evangelho
da genuína graça de Deus.
2. O valor da graça. Escrevendo aos coríntios, o apóstolo da graça afirmou: “Vocês foram comprados por preço” (1Co 7.23 — NAA). Paulo foi um defensor do Evangelho da graça. Em seu tempo ele não aceitou de forma alguma os penduricalhos que alguns cristãos quiseram por ao Evangelho. O apóstolo sabia do alto preço que custou a nossa salvação — o sangue de Cristo. A salvação é de graça, mas o seu preço custou caro. Duas coisas precisam ser observadas neste texto. Primeiramente, a voz passiva do verbo grego indica que outra pessoa fez a transação por nós e o tempo verbal (aoristo) diz que essa transação foi completa. Não há mérito humano, Cristo pagou o preço e fez tudo por nós. Nada mais precisa ser acrescentado a nossa salvação. Isso é graça!
Conclusão: Nesta lição, partimos da
necessidade de se compreender corretamente o que é a graça de Deus. Vimos como
a graça de Deus foi entendida em diferentes contextos. A Bíblia é sempre a
régua através da qual qualquer entendimento da doutrina da graça precisa ser
medido. Como verberou na Reforma, a Escritura continua ecoando em nossos dias —
a salvação é somente pela graça.
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