Introdução - Na sequência do estudo das promessas de Deus, estudaremos hoje
a promessa da vida abundante. - Jesus nos prometeu dar vida em abundância.
I – O QUE É A VIDA - Na sequência do estudo das
promessas de Deus, estudaremos hoje a promessa da vida abundante. - Para
entendermos o que é “vida abundante”, precisamos, por primeiro, falar do que é
“vida”. - O Dicionário Michaelis diz que “vida” é “o conjunto de propriedades,
atividades e funções (replicação, mutação, reprodução, entre outras) que
caracterizam e distinguem um organismo vivo de um morto”. - A vida, portanto, é
um conjunto de propriedades que permitem distinguir um organismo, que, por
crescer, desenvolver-se, modificar-se e se reproduzir, mostra ter nele uma
força, uma dádiva. - A primeira vez que a palavra “vida” surge na Versão
Almeida Revista e Corrigida é em Gn.2:17, precisamente quando se está a
descrever a criação do homem, quando se diz que Deus soprou nas narinas de Adão
e lhe deu “fôlego de vida”. - A palavra hebraica aqui é “hay” (חי(,”
substantivo feminino que significa um ser vivente, um animal, uma fera, uma
alma vivente. O sentido básico é seres viventes…” (Bíblia de Estudo
Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 2416, p.1634). -
Elucidativo que o termo surja em referência ao homem, a nos mostrar que a vida
atinge sua plenitude no ser humano que, a um só tempo, é um ser espiritual e
material, o que o distingue de todos os demais seres, que, ou só são
espirituais (Deus e os anjos) ou só materiais (animais, vegetais e minerais). -
A referência, ademais, faz-se, por primeiro, em relação à vida espiritual, pois
o “fôlego de vida” não é o oxigênio, mas, sim, o próprio espírito que Deus faz
exsurgir naquele boneco de barro, a nos revelar, também, que a vida humana não
é meramente biológica, mas, sim, algo que transcende a esta matéria, algo que
se une à matéria para gerar um ser todo especial. - Também o texto revela que a
vida tem origem em Deus. Foi Deus quem soprou nas narinas daquele boneco de
barro, a nos demonstrar que Deus é a vida. Aliás, não por acaso, ao iniciar a
sua revelação de Cristo Jesus como Filho de Deus, o evangelista João tenha dito
que em Jesus estava a vida e a vida era a luz dos homens (Jo.1:4), o que é
repetido pelo próprio Senhor, quando disse ser Ele a vida (Jo.14:6). - Em ambos
os textos, João se utiliza da palavra “dzoé” (ζωή), “… com o sentido de
existência, vida, em um sentido absoluto e sem fim (…) vida abençoada, vida que
satisfaz (…) vida eterna…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo
Testamento, verbete 2222, p.2225). - Notamos, portanto, que a vida aqui é, primacialmente,
a vida espiritual, a existência eterna, o que nos permite verificar que somente
se tem esta vida quando há a ligação entre Deus, que é a vida, o ser
Autoexistente (por isso mesmo, apresenta-se para Moisés no monte Horebe como
“Eu sou o que sou” – Ex.3:14), expressão que Cristo Se deu a Si mesmo, no
evangelho segundo João, algumas vezes (Jo.6:35,48,51; 8:12,18,23,24,58;
Jo.10:7,9,11; 11:25; 12:46; 13:19; 14:6; 15:1,5; 18:37), e o homem. - Vida,
portanto, significa esta comunhão entre Deus e o homem, comunhão esta que
permite ao homem ser o que o Senhor quer que ele seja, a saber, Sua imagem e
semelhança, com poder de domínio sobre a criação terrena (Gn.1:26-28). - Isto é
distinto da vida meramente biológica, que também foi dada ao homem, mas não
somente a ele, mas também a animais e vegetais, que é a palavra grega “bios”
(βίος), “…o estado presente da existência (…) a vida presente…” (Bíblia de
Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 979, p.2115). -
Esta vida biológica recebeu um término quando da entrada do pecado no mundo,
porquanto o Senhor, entre os castigos dados por causa da queda, estabeleceu a
morte física, que seria a separação entre o corpo e o homem interior, pois o pó
deveria tornar à terra de onde fora tomado (Gn.3:19). - Ao ser criado, embora
fosse um ser mortal (Sl.8:4), o homem, por causa de sua vida espiritual, tinha
condições de se manter em plena vida biológica ao longo dos anos, sem qualquer
corrupção. Sua comunhão com o Criador permitia-lhe ter pleno acesso à árvore da
vida e fazer com que o homem exterior se mantivesse tão novo e vigoroso quando
de seu surgimento. - A morte, a exemplo da vida, não era algo meramente
biológico. Quando o Senhor dá a ordem ao primeiro casal para que não comessem
da árvore da ciência do bem e do mal senão eles haveriam de morrer
(Gn.2:16,17), não estava Se referindo à morte física, que só é anunciada após a
queda como resultado do pecado, mas, sim, à morte espiritual, esta separação
entre Deus e o homem, que já é experimentada no dia mesmo da queda, quando o
casal se esconde quando da chegada do Senhor ao jardim do Éden (Gn.3:8). - Vida
é esta comunhão, esta união querida e construída por Deus em relação ao homem e
a vida eterna trazida por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nada mais é que
o restabelecimento desta situação rompida pelo pecado, tanto que o que se
destaca no Estado Eterno nada mais é que o fato de que homem e Deus estarão a
coabitar para todo o sempre (Ap.21:1-3). - É essa a proposta divina para a
humanidade. Ao Se revelar a Israel e fazê-lo Sua propriedade peculiar dentre os
povos (Ex.19:5,6), o Senhor disse que propunha aos israelitas a vida e o bem
(Dt.30:15). - E o que era a vida e o bem? A Palavra de Deus, à época, a lei
(Dt.30:11-14), que havia sido dada ao povo por meio de Moisés (Jo.1:17), que
era a figura das realidades espirituais (Hb.10:1), plenamente reveladas e
cumpridas por Jesus (Jo.1:17; Mt.5:17). - A Palavra de Deus é a vida, porque a
Palavra de Deus é o Verbo Divino (Jo.1:1,14), que é Jesus Cristo. Por isso, o
Senhor disse ter vindo para trazer vida (Jo.10:10).
II
– A VIDA ABUNDANTE A promessa de vida para a humanidade foi dada
no exato instante em que se revelou o plano da salvação. Ao dizer que poria
inimizade entre a humanidade e o diabo, Deus estava a dizer que restabeleceria
a comunhão com o homem, ou seja, haveria novamente vida, já que, com a queda,
havia se iniciado o “império da morte” sob o comando de Satanás (Hb.2:14). -
Entretanto, o Senhor Jesus nos mostra que Deus não apenas prometeu a vida, e
vida eterna, mas, também, vida abundante: “…Eu vim para que tenham vida e a tenham
com abundância” (Jo.10:10b). - Temos, aqui, pois, uma outra promessa que não se
confunde com a promessa da salvação. Cristo promete nos uma vida abundante, um
patamar acima da vida trazida pela Sua obra salvífica. - “…Apocalipse 11.1
afirma: “E foi-me dada uma cana semelhante a uma vara: e chegou o anjo, e
disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram”. Essa
expressão subtende níveis de vida espiritual. Deus deseja que vivamos uma vida
cristã abundante (Jo 10.10; 7.38,39; Ef 5.18-21). Ezequiel 47.5 fala das águas
que “eram profundas; águas que se deviam passar a nado; ribeiro pelo qual não
se podia passar”. Deus quer que cheguemos a esse nível em nossa vida
espiritual. Ele deseja que vivamos uma vida cristã abundante, profunda,
frutífera, vitoriosa em Cristo. (…) em Hebreus 6.9, lemos que a salvação traz
consigo muitas riquezas. O escritor bíblico fala de “coisas que acompanham a
salvação”. Há bênçãos de Deus contínuas para aqueles que estão em Cristo.…”
(GILBERTO, Antonio. Vida cristã abundante. Rio de Janeiro: CPAD, 2020. e-book,
p.4). - Jesus fala-nos desta promessa quando está a Se identificar aos judeus como
sendo “a porta das ovelhas”, quando está a Se apresentar como sendo o Bom
Pastor. - Jesus estava a Se distinguir dos falsos messias que, particularmente,
haviam aparecido com certa intensidade no chamado período intertestamentário, o
período que vai desde o profeta Malaquias até João Batista. - Neste período, o
Senhor não levantou profeta algum em Israel e, como diz Salomão, não havendo
profecia, o povo se corrompe (Pv.29:18). - Sem a direção divina e ante o
aumento da expectativa pela vinda do Messias, decorrente da própria
circunstância de uma duradoura e cruel servidão sob povos estrangeiros
(Ne.9:36,37), passaram a surgir lideranças que se diziam messiânicas ou
preparadoras da vinda do Messias (Cf. At.5:35-39). - Aliás, essa profusão de
falsos messias ou falsos preparadores do Messias continuaria mesmo após o
ministério de Jesus Cristo e seria um dos fatores principais para a destruição
do templo em Jerusalém no ano 70, resultado direto do triunfo político dos
zelotes, que defendiam a insurreição contra os romanos como uma atitude que
provocaria o surgimento do Messias, ou, mesmo, da expulsão final dos judeus da
terra de Israel, no ano 135, quando assume o comando dos judeus, “Bar Kochba”,
que se intitulava como sendo o Messias. - Cristo, porém, adverte os judeus de
que todos quantos haviam surgido antes d’Ele eram “ladrões e salteadores”, mas
Ele era o verdadeiro Messias, “a porta das ovelhas”, que teria comunicação
direta com o homem, que ouviriam a Sua voz e teriam intimidade com Ele. -
Cristo Jesus disse que Suas ovelhas, que não seriam apenas judeus, mas também
gentios (Jo.10:16), entrariam no Seu aprisco, alcançando a salvação, mas,
também, achariam pastagens (Jo.10:9). - Já por esta circunstância, notamos que
a promessa da vida abundante é uma promessa “nacional”, ou seja, dirigida à
Igreja, porquanto a vida abundante somente se encontra se a pessoa entrar por
Cristo, a porta das ovelhas. - Portanto, as pastagens somente estão disponíveis
para quem pertence ao rebanho do Senhor, que é a Igreja (Jo.10:16), este povo
surgido da ação purificadora do sangue de Jesus, que derrubou a parede de separação
entre judeus e gentios e que fez com que pudéssemos nos aproximar de Deus e
fazer parte dos concertos da promessa, podendo ter esperança e Deus neste mundo
(Ef.2:11-18). - Simultaneamente, observamos que a promessa da vida abundante é
uma promessa condicional, pois somente acharão pastagens aqueles que entrarem
por Cristo e alcançarem a salvação. É preciso estar em Cristo para se ter vida
abundante. - A vida abundante é mais do que a comunhão, porque a comunhão se
obtém quando se entra no aprisco, mas, uma vez no aprisco, diz Nosso Senhor que
as ovelhas encontrariam pastagens. - Esta afirmação do Senhor Jesus remete-nos
ao Salmo 23, o salmo do pastor, escrito por Davi. Ali, Davi, que era pastor de
ovelhas de profissão, diz, logo de início, que o seu pastor é o Senhor e que
nada lhe faltaria (Sl.23:1). - Notamos, aqui, portanto, que a vida abundante
tem como característica primeira, a completude, ou seja, a inexistência de
qualquer falta, qualquer lacuna. - A expressão “nada me faltará”, por vezes,
traz-nos a impressão de que o Senhor não permitirá que tenhamos quaisquer
necessidades, que tudo está à nossa disposição, e, neste pensamento, muitos,
inclusive, pensam no sentido material, confundindo esta afirmação com a
promessa da provisão. - No entanto, se bem formos verificar o texto bíblico,
vemos que o significado não é este, mas que a completude é resultado da própria
presença do Senhor. Ele, Deus, não nos falta, como, aliás, consta na Versão di
Nelson: “O Senhor é o meu pastor e não me faltará”. - Como diz o pastor Aldery
Nelson Rocha: “…O Senhor é quem não nos falta. Mas quem não nos faltará,
jamais, é Ele, o Verbo, o supridor, a pessoa do Pastor, e não aquilo que Ele
nos oferece. Nas necessidades sensoriais, psíquicas e espirituais, Ele não nos
faltará e não nos decepcionará. Temos aqui a declaração da fidelidade do Pastor
e da fé da ovelha.…” (Santa Bíblia Versão Di Nelson, p.1061). - A vida
abundante é resultado da presença de Cristo em nós, de nossa integração com o
Senhor. Paulo, aquele que as páginas do Novo Testamento apresentam como sendo a
pessoa que mais se aproximou desta circunstância, traduz este estado ao dizer
que não mais vivia mas Cristo vivia nele e a vida que vivia na carne naquele
tempo vivia-a na fé do filho de Deus, o qual lhe havia amado e Se entregado a
Si mesmo por ele (Gl.2:20). - Cristo é a vida e quando estamos completamente
inseridos n’Ele e Ele em nós, naquela perfeita unidade que é o objetivo da obra
salvífica (Jo.17:21-23), é evidente que passamos a ter uma vida em abundância,
porque a própria vida não só está em nós como está a nos dirigir totalmente. -
Isto faz-nos lembrar, inclusive, os ensinos advindos do hinduísmo e do budismo,
segundo os quais, o máximo da evolução espiritual seria atingir o “Nirvana”, um
estado de imperturbalidade, de término do sofrimento e da dor, que se entende
como uma “absorção”, uma “abdução” na divindade. - Todavia, o ensino
verdadeiro, advindo do texto bíblico, mostra que esta perfeita unidade e
comunhão não retira, em absoluto, a individualidade de cada ser humano, que
passa a ter não apenas uma serenidade, mas, sim, uma “vida abundante”, e vida,
como já visto, não é uma extinção, uma inércia, mas, sim, uma interação cada
vez mais crescente e gloriosa junto a Cristo, que é a vida. Aleluia! - O salmista
prossegue dizendo que o Senhor faz-nos deitar em verdes pastos (Sl.23:2a). Esta
afirmação traz-nos duas importantes lições a respeito da vida abundante. A
primeira é a de que a vida abundante exige a obediência e a plena disposição da
ovelha ao pastor. O Senhor nos faz deitar, ou seja, há o cumprimento da vontade
divina. Estamos precisamente onde Ele quer que nós estejamos, vamos para lá
voluntariamente, diante da ordem divina. - Não há vida sem obediência. A vida
perdeu-se com a desobediência, pois esta traz a morte, como o próprio Deus
alertara o primeiro casal (Gn.2:16,17). A vida abundante exige que atendamos às
ordens do Senhor, e que nos deitemos quando Ele assim mandar. - A segunda lição
é a de que o lugar onde Deus nos põe é de “verdes pastos”, ou seja, lugar em
que podemos nos alimentar e, com a alimentação, termos condição de crescimento,
desenvolvimento e produção. Onde Deus nos põe é sempre “verde pasto”, onde
teremos plenas condições para glorificá-l’O. - Ao ser tentado pelo diabo no
deserto, Jesus disse que o alimento de nosso homem interior é a Palavra de Deus
(Mt.4:4; Lc.4:4). Assim, os “verdes pastos” são um lugar em que deve haver
alimento, e alimento saudável, ou seja, a “palavra que procede da boca de
Deus”. - “…Se queremos ter uma vida cristã abundante, devemos meditar na,
obedecer a e viver a Sagrada Escritura. A Palavra de Deus é “lâmpada para os
meus pés” (isto é, agora) e também “luz para o meu caminho” (isto é, minha vida
em continuação) (Sl 119.105). Em Salmos 119.11, lemos que a Palavra de Deus nos
guarda do pecado (e não no pecado). A Palavra de Deus “é viva e eficaz” (Hb
4.12). Ela é poderosa (Jr 23.29). Todo crente deve ler a Bíblia todos os dias
se quer crescer em Deus (Dt 17.18,19; Js 1.7; Ne 8.18; Sl 1.2; At 17.11). O
crente deve ter o conhecimento da Palavra de Deus (no seu intelecto) e o apego
e obediência à Palavra (no seu coração) (Jo 8.32; Hb 8.10; Hb 10.16).…”
(GILBERTO, Antonio, op.cit. p..4-5). - Para cumprir a Sua promessa de vida
abundante, o Senhor sempre Se encarrega de nos deixar à disposição a Sua
Palavra, como temos todos sido testemunhas durante toda a nossa jornada de fé,
numa disseminação nunca antes vista em todo o planeta. Não há, na atualidade,
como dizer que não se pode ter acesso à Palavra de Deus, mesmo nos lugares onde
há imensa perseguição à pregação do Evangelho. - Não há vida abundante sem que
se tenha a oitiva, o estudo e o cumprimento da Palavra de Deus. Não nos
esqueçamos de que o Senhor Jesus, ao falar do aprisco, diz que por ele,
entrarão e sairão ovelhas. Se é verdade que o Senhor não lançará fora qualquer
ovelha que tenha entrado (Jo.6:37), bem como que ninguém poderá arrebatar Suas
ovelhas de Sua mão (Jo.10:28), em lugar algum é dito que o Senhor impede a
livre locomoção das ovelhas. - Assim, é de se lamentar que muitos, em nossos
dias, têm deixado os verdes pastos em que o Senhor os fez deitar, e tem saído
do aprisco, deixando de se alimentar, não ouvindo a Palavra, nela não meditando
e muito menos a cumprindo. - Além de nos alimentarmos junto aos verdes pastos,
neles temos descanso, estamos deitados, em situação de paz, outra promessa que
acompanha a salvação e da qual desfrutamos. - Quando aprendemos com o Senhor
Jesus, e as Escrituras são as Suas testemunhas (Jo.5:39), encontramos descanso
para as nossas almas (Mt.11:29). Este é o nosso verdadeiro descanso, o nosso
“verdadeiro sábado” e não um simples dia da semana. O nosso dia é “hoje” (Hb.4:7),
pois a vida abundante nos traz um descanso permanente e duradouro. - O salmista
continua dizendo que o Senhor o guia mansamente a águas tranquilas ou águas de
descanso (Sl.23:2b). A direção do Senhor, como já temos visto, é um elemento
indispensável para que tenhamos uma vida abundante. Precisamos ser guiados pelo
Senhor e isto se dá quando temos comunhão com Ele, pois Ele mandou o Espírito
Santo para que nos guiasse em toda verdade (Jo.16:13). - Esta direção é feita
“mansamente”. Aqui temos a palavra hebraica “nahal” ( נחל(, ...” iniciar com
uma fagulha, i.e., fluir, donde (transitivo) conduzir e, (por inferência)
proteger, sustentar:— levar, sustentar, guiar, dar paz, levar, ir como guia,
seguir guiando” (Bíblia Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento,
verbete 5095, p.1790). - Pelo que se pode observar aqui, o Senhor está, desde o
instante primeiro da nossa salvação, quando cremos n’Ele (a “fagulha inicial”),
a nos levar, a nos dar paz, a nos levar como guia, a nos seguir guiando até que
nos encontremos com o Senhor nos ares no dia do arrebatamento da Igreja. - É
uma direção suave, em que nos deixamos levar pela Sua orientação. Faz-nos aqui
recordar a manifestação divina a Elias, quando este estava numa caverna no
monte Horebe. Apesar de ter havido forte vento, terremoto e fogo, o Senhor Se
manifestou ao profeta como uma voz mansa e delicada (I Rs.19:11,12). - Muitos
acham que a demonstração de comunhão com Deus, de uma elevada espiritualidade
está vinculada ao barulho, ao espetáculo, mas o salmista nos ensina aqui que a
vida abundante nos leva a um guiar manso do Senhor, que, na Sua voz mansa e
delicada, orienta-nos o que devemos fazer para cumprir a Sua vontade. - Além de
nos guiar mansamente, o destino são as “águas tranquilas” ou “águas de
descanso”, ou seja, a ampla satisfação da sede espiritual. O Senhor, no último
dia da festa dos tabernáculos, exclamou em alto e bom som: “…Se alguém tem
sede, que venha a mim e beba” (Jo.7:39 “in fine”). - Ele disse à mulher
samaritana que tinha a água da vida e quem dela bebesse jamais voltaria a ter
sede, porque a água dada por Jesus faz jorrar uma fonte para a vida eterna
(Jo.4:13,14). - Jesus é o único que pode saciar a sede de Deus (Sl.42:2; 143:6)
e a vida abundante é esta situação de saciedade, de satisfação, oriunda de uma
busca incessante do Senhor (Sl.63:1). - Por isso mesmo, a vida abundante não
pode abrir mão da prática da oração, reforçada pelo jejum. - “…O crente deve
perseverar em oração, sem desfalecer (Lc 18.1). 2) Se você é um santo do
Senhor, então ore! (Sl 32.6). 3) Efésios 6.18 nos mostra como deve ser nossa
vida de oração: a) Oremos sempre (“orando em todo o tempo”). b) Oremos
diversamente. Há muitas formas de oração a Deus (“com toda oração e súplica”).
c) Oremos “no Espírito”. Isto é, oremos através do Espírito Santo. Em outras
palavras: não se consegue, sozinho, orar mesmo. Orar mesmo, só com a ajuda e a
agência do Espírito Santo dentro de nós (Rm 8.26,27; Jd v20). d) Oremos
vigiando (“e vigiando nisto”). Isto é, oremos em estado de alerta espiritual,
porque há um Diabo contra a oração, e contra quem ora. e) Oremos com
perseverança, sempre continuando (“com toda a perseverança e súplica”). f)
Oremos com amor, sem discriminação; oremos até mesmo pelos nossos oponentes
(“por todos os santos”). (…) a) Salmos 88.9: “Tenho clamado a Ti todo o dia”.
b) Disse Jesus “quando orares”, e não “se orares” (Mt 6.6). c) Disse Jesus
“quando jejuares”, e não “se jejuares” (Mt 6.12).…” (GILBERTO, Antônio.
op.cit., p.5). - O salmista prossegue dizendo que o Bom Pastor refrigera a alma
da ovelha (Sl.23:3a). A palavra hebraica aqui é “shub” (שןב(, cujo significado
é de “voltar, retornar, converter, mudar de direção”. - A vida abundante é o resultado
de uma mudança de direção, ou seja, em vez de se distanciar cada vez mais de
Deus, porquanto um abismo chama outro abismo (Sl.42:7), agora nos estamos
sempre a nos aproximar cada vez mais do Senhor (Tg.4:8a), a crescer
espiritualmente, porque estamos em contínua e ininterrupta santificação
(Ap.22:11). A vida abundante é a caminhada rumo a perfeição, perfeição esta que
será alcançada, se estivermos servindo assim, quando o Senhor arrebatar a Sua
Igreja. - Eis o motivo pelo qual, na vida abundante, a ação do Espírito Santo
vai cada vez mais se intensificando no servo de Jesus Cristo. - “… O Espírito
Santo age na conversão do pecador e na vida cristã subsequente (Jo 3.3-8;
16.8-11; 14.16,17,20; Rm 8 [todo]; 1Jo 4.1). b) O batismo com o Espírito Santo
(Lc 24.49; At 1.5; 2.1-4,38; 10.44-46; 19.2-7). c) Os dons do Espírito Santo
(1Co 12.1- 11,28-31; 14 [o capítulo todo]; Rm 12.6-8). d) A vida do crente é
sempre avivada e renovada no Espírito Santo (2Co 4.16; Tt 3.5; Ef 5.18-21). 2
Timóteo 1.6 afirma “que despertes”. No grego, é “ana/zoo/pireo”, que é “reaviva
em ti o fogo do Alto".…” (GILBERTO, Antônio. op.cit.,, p.6). - Este
refrigério, trazido pela presença do Senhor em nós diante da nossa salvação
(At.3:19), é um “reavivamento, uma “recuperação de fôlego” como aponta a
palavra grega “anapsyksis” (άνάψυξις) (Bíblia de Estudo Palavras-Chave.
Dicionário do Novo Testamento, verbete 403, p.2065). - Assim, no início da
salvação, “recuperamos o fôlego de vida”, isto é, nosso espírito é vivificado e
voltamos a ter comunhão com o Senhor e, a partir de então, iniciamos uma
jornada de contínua aproximação, e como diz conhecido hino, “a cada passo que
eu dou na vida é um degrau a mais que subo ao céu”. - Esta é a vida abundante,
consequência da nossa subida, degrau a degrau, rumo ao céu. Daí porque ter ela,
necessariamente, de ser seguida pelo batismo com o Espírito Santo e com a
concessão dos dons espirituais. - Este refrigério, trazido pela presença do
Senhor em nós diante da nossa salvação (At.3:19), é um “reavivamento, uma
“recuperação de fôlego” como aponta a palavra grega “anapsyksis” (άνάψυξις)
(Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 403,
p.2065). - Assim, no início da salvação, “recuperamos o fôlego de vida”, isto
é, nosso espírito é vivificado e voltamos a ter comunhão com o Senhor e, a
partir de então, iniciamos uma jornada de contínua aproximação, e como diz
conhecido hino, “a cada passo que eu dou na vida é um degrau a mais que subo ao
céu”. - Esta é a vida abundante, consequência da nossa subida, degrau a degrau,
rumo ao céu. Daí porque ter a salvação, necessariamente, de ser seguida pelo
batismo com o Espírito Santo e com a concessão dos dons espirituais, para que,
além de sermos cumpridores da Palavra de Deus, verdadeiras cartas de Cristo (II
Co.3:3), também possamos confirmar esta Palavra com demonstração do poder e do
Espírito (I Co.2:4). - O salmista diz também que o Senhor o guia pelas veredas
da justiça por amor do Seu nome (Sl.23:3b). - A vida abundante faz-nos
prosseguir pelo caminho apertado, iniciado pela porta estreita, e que nos leva
à salvação (Mt.7:13,14). - Essa é a carreira que nos está proposta, onde
devemos deixar o embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia, olhar para
Jesus, autor e consumador da nossa fé, suportando a cruz, desprezando a
afronta, suportando as contradições dos pecadores contra nós, resistindo até o
sangue no combate ao pecado (Hb.12:1-4). - A vida abundante não é, em absoluto,
como se pode verificar, uma vida sem dificuldades ou percalços. O escritor aos
hebreus diz que há embaraço, pecado, cruz, afronta e contradições dos
pecadores. - O salmista, também, segue nesta linha de raciocínio, ao dizer que,
apesar de estar nos verdes pastos, junto a águas tranquilas, guiado pelas
veredas da justiça, pode ter de enfrentar o vale da sombra da morte, e o fará
sem temor, porque sabe que o Senhor está com ele (Sl.23:4). A vida abundante é
esta companhia e presença do Senhor nos momentos de adversidades e de
contradições, não a ausência de problemas, como têm ensinado falsos mestres,
máxime os arautos das teologias da confissão positiva e da prosperidade. -
Existem os inimigos e, diante deles, mantemos a nossa comunhão com o Senhor. O
salmista fala disto ao dizer que o Senhor prepara uma mesa na presença dos
inimigos (Sl.23:5). Evidentemente que os inimigos não se encontram na mesa,
mas, apesar de eles existirem e quererem impedir a nossa vida abundante, o
Senhor está comendo e bebendo conosco, ou seja, estamos em comunhão com Ele,
pois a refeição é a figura bíblica da comunhão. - Enquanto os inimigos se
levantam e tentam nos engolir vivos (Sl.124:1-5), o Senhor não só come e bebe
conosco, como também unge a nossa cabeça com óleo (Sl.23:5), expressão que fala
do cuidado do pastor com a saúde da ovelha, pois esta unção visa impedir que
parasitas venham a tomar conta do corpo do animal, como também traz um
refrescor, um lenitivo para toda a luta vivida contra os inimigos. - Além da
unção da cabeça com óleo, o salmista diz que o seu cálice trasborda, a nos
indicar a alegria completa e perfeita que temos por estarmos em comunhão com o
Senhor (Sl.23:5). - A vida abundante completa-se com a certeza de que a bondade
e a misericórdia do Senhor sempre nos seguirão e que alcançaremos a vida
eterna, que é a sempiterna habitação na cidade celestial (Sl.23:6; Ap.21:3).
III – A PROMESSA DA VIDA
ABUNDANTE - O Senhor Jesus prometeu-nos essa vida abundante (Jo.10:10).
E, numa clara demonstração de que tinha ampla disposição para cumprir tal
promessa, já no domingo da ressurreição, aparece aos discípulos, que,
amedrontados se encontravam reunidos no cenáculo, para lhes dar a paz, o
apostolado e o Espírito Santo (Jo.20:19-23). - Antes de ascender aos céus,
mandou que os discípulos ficassem em Jerusalém até que fossem revestidos de
poder (Lc.24:49), o que efetivamente aconteceu no dia de Pentecostes (At.2:1-4).
- Jesus soprou sobre os discípulos para que eles recebessem o Espírito Santo
(Jo.20:22), mas os discípulos tiveram de crer e de buscar em oração e súplicas
o revestimento de poder (At.1:14). - Isto nos mostra, pois, com absoluta
clareza, se a vida somente pode vir a nós por Jesus Cristo, a abundância de
vida, o crescimento e desenvolvimento espirituais decorrentes do novo
nascimento são uma tarefa conjunta do Senhor e de nós mesmos. - O Senhor cria
amplas condições para que desfrutemos desta vida abundante, mas é necessário
que venhamos a satisfazer os requisitos exigidos de nós para que alcancemos tal
promessa. - Diz o poeta sacro traduzido/adaptado pelo pastor Paulo Leivas
Macalão, no hino 374 da Harpa Cristã, que nós queremos ter vida abundante de
pureza e de santidade para amarmos a Deus em verdade pela graça que Ele nos
deu. - Ora, para que possamos ter esta vida de pureza e santidade, o Senhor põe
à nossa disposição os meios de santificação, quais sejam, a Palavra de Deus
(Jo.17:17), a oração, reforçada pelo jejum (I Tm.4:5), a participação digna na
ceia do Senhor (I Co.11:26-30) e o temor de Deus (II Co.7:1). - Ninguém pode se
escusar se não tiver uma santificação contínua e crescente (Ap.22:11),
porquanto o Senhor tem concedido todas as condições para que nos apropriemos
dos meios de santificaçãoO Senhor tem dado a Sua Palavra, que está disponível a
todos nós, levantando ainda ministros para que a preguem e a ensinem aos Seus
discípulos. - O Senhor tem nos ensinado a orar e podemos, então, orar e
reforçar a oração com jejum incessantemente (Ef.6:18; I Ts.5:17; Mt.9:15). -
Podemos participar dignamente da ceia do Senhor, já que o Senhor tem criado
igrejas locais em que podemos congregar, mesmo nos países de cruel perseguição
contra os cristãos, como é o caso, atualmente, da China, que, desde 2022, proibiu
todo e qualquer local de reunião de religiosos a menos que tenham autorização
estatal, autorização que exige que se ensinem os ditames da filosofia comunista
que, obviamente, são contrários ao Evangelho. - Por fim, podemos temer a Deus,
obedecendo à Sua Palavra, cumprindo-a, o que nos leva a purificação de toda
imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a nossa santificação (II
Co.7:1). - Mas, na sequência do hino 374 da Harpa Cristã, o poeta diz que nós
queremos ter vida abundante de amor que o Pai nos tem dado em Jesus, o Seu
Filho amado, cuja vida por nós derramou. - Como diz o “apóstolo do amor”,
qualquer que não pratica a justiça e não ama a seu irmão não é de Deus e
devemos cumprir o mandamento de Cristo, que é o de nos amarmos uns aos outros
(I Jo.3:10b,11; Jo.15:12). - Ora, a prática do amor é indispensável na vida de
quem diz ser filho de Deus e o amor nada mais é que o fruto do Espírito
(Gl.5:22), que é desdobrado em nove qualidades. Aliás, o amor de Deus é
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos é dado (Rm.5:5) e,
como já vimos supra, ao dar o Espírito Santo aos discípulos no domingo da
ressurreição, estava o Senhor, portanto, a derramar o Seu amor no coração dos
Seus servos. - O amor divino é derramado em nossos corações, de modo que não
podemos nos escusar se não manifestarmos este amor em nossas vidas. Tendo
recebido este amor, devemos conservá-lo e aumentá-lo a cada instante, a cada
dia, lembrando que tal amor é sofredor, benigno, não invejoso, não trata com
leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus
interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça mas
folga com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I
Co.13:4- 7). - Precisamos ter a mesma conduta do apóstolo Paulo, que amava os
coríntios cada vez mais, embora fosse por eles cada vez menos amado (II
Co.12:15). - O poeta sacro, no hino 374 da Harpa Cristã, por fim, diz que nós
queremos ter vida abundante de Jesus, a veraz fortaleza, que nos dá do perdão a
certeza e nos enche de consolação. - A vida abundante traz-nos a certeza da
salvação que, longe de ser uma manifestação de soberba e de uma autoconfiança
de quem se considera alguém incondicionalmente predestinado para a salvação, é
um incentivo e estímulo para a perseverança, pois sabemos que, como ensina o
profeta Ezequiel, de nada vale uma vida de justiça se, no último instante de
nossa peregrinação terrena ou no abrir e fechar de olhos do arrebatamento da
Igreja, viermos a ser achados fora da comunhão com o Senhor (Ez.18:24). - A
vida abundante, ao mesmo tempo que nos faz perceber que estamos espiritualmente
de pé, também nos traz a necessária vigilância para que não venhamos a cair (I
Co.10:12). - Por isso mesmo o poeta sacro diz que tal certeza advém da nossa
constatação de que Jesus é a nossa veraz fortaleza, o que nos faz lembrar outra
afirmação do apostolo dos gentios: “… Porque, quando estou fraco, então, sou
forte.” (II Co.12:10 “in fine”). Ao termos consciência da nossa fraqueza e que
a senda para a perfeição cristã depende exclusivamente d’Aquele que nos
fortalece, aí, sim, temos plenas condições de obtermos o fortalecimento no
Senhor e na força do Seu poder (Ef.6:10). - A vida abundante traz-nos a
plenitude de consolação, que nada mais é que a plenitude do Consolador, do
Espírito Santo. Devemos estar cheios do Espírito Santo e, para tanto, mister se
faz que não só tenhamos uma vida de santificação, mas que busquemos o batismo
com o Espírito Santo e os dons espirituais. - O Senhor já nos abençoou com
todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3), mas se
faz absolutamente necessário que façamos a nossa parte para que tais bênçãos,
já prometidas, tornem-se realidade em nossas vidas. Temos feito isto?
Colaboração
para o Portal Escola Dominical – Pr. Caramuru Afonso Francisco
FONTE: PORTAL DA EBD